sexta-feira, maio 14, 2010

O Chamado em Minutos

Quinta-feira. 13 de maio. Três dias após o aniversário de minha irmã Gabriela. Acordei para mais um dia de trabalho(estágio). Marquei para 6h40, mas somente 7h30 tenho acordado - não mais que isso. Virou tática para acordar. Coloco despertar para meia hora antes da hora prevista para aperriar a paciência e enfim começar o dia. Antes me estressava fazer isso, mas agora estou acostumado. Entre o banho, o café e a saída de casa para tomar um ônibus rola um tempo de 20 minutos. Quando o olho bate no relógio, já penso logo: Eita porra, to atrasado! Carajoooo!

Andar de ônibus é até legal, mas quando não há a necessidade de chegar a algum lugar naquela velha desculpa dos cinco minutinhos. Nessa quando chego na parada de ônibus logo avisto uma jovem lindinha mesmo (desculpa namorada! kkk) toda trajada de branco - notoriamente estudante de alguma área de saúde. Ela saiu do banquinho segurando uma penca de livros mais uma sombrinha na tentativa de acenar para o ônibus circular lotado que seguia para a Universidade. Perdeu.

Meu irmão que estresse foi aquele: a moça soltou os livros e arrebentou o cabo da sombrinha no banco da parada. 

Até aí, deu vontade de sorrir. Certo, sou besta mesmo pra sorrir e um ótimo ator pra disfarçar a vontade quando a mulher resolveu despachar a raiva pelos olhares em quem a estivesse observando. No entanto, o curioso não foi isso. Foi uma lição de vida que um senhor começou a dizer para ela sobre o estresse da correria da vida.

"Minha filha, se acalme. Vai ver não era esse o ônibus certo pra você pegar... Pra que a pressa?! Sente ai", disse seu Domingos já apontando pelo horizonte a chegada de um outro que fazia a mesma linha: "Tá vendo. Chegou outro. Quebrou a sombrinha sem necessidade. E se a chuva chegar? Bora se acalmar, juventude", complementou ele o monólogo de três minutos como quem fosse "O Cara " ao pedir pelo pensamento e voz da experiência o ônibus da moça.



Gostei das palavras dele, mas era hora de aparecer o meu transporte - Cadê aquele #felas kkk. Foi quando o seu Domingos se aproximou de mim e começou a conversar. Não sei se fui eu quem pegou o mesmo transporte que o dele ou vice-versa. Sei que, pelos breves 20 minutos até o meu trabalho, ele resumiu com uma divina memória toda sua vida como um locutor esportivo no rádio - e eu não perdi um detalhe da conversa.

O velho passou de vaqueiro a ex-funcionário da Cepisa contando com o revés de ter perdido sua esposa e entrado no mundo do alcoolismo. Viu os filhos crescerem, mas não da forma como gostaria. Mas tudo bem, seu Domingos agradece a Deus esse favorzinho de ter olhado e abençoado suas crias que agora desbravam pelo mundo vidas próprias.

Olhando sempre para o céu (mesmo estando dentro do ônibus), ele apontou dez vezes para cima para falar que "acorda, vive e dorme" sempre agradecendo a Deus por tudo que ele já passou, teve ou tem. Hoje e assim como há 20 anos ele seguia para o A.A (Alcóolicos Anônimos) na maior alegria como quem diz pelo sorriso:

"A vida é isso. Com bons ou maus momentos, é isso. A gente vive assim também e pode ser feliz". 

 
Ao botar a lição na cachola, ele dá um último aviso a mim com o dedo em riste com os olhos azuis da cor de tiquira (bebida maranhense a base mandioca) esbugalhados: "Tudo que a gente planta, a gente colhe. É assim que funciona". Agradeci pelas palavras, paguei a passagem e rasguei pelo mundo na vontade de querer viver mais e, de já, agradecendo a Deus também.

Raoni Barbosa

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