quarta-feira, julho 29, 2009

Cartas...

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz. No entanto, vou fazê-lo por escrito.
 
Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É com se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a ‘quarta’. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as ‘outras’, não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.

Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor – o mais benéfico que jamais tive – seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranqüilo ou simplesmente feliz e ‘generoso’. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana comecei a procurar as ‘outras’. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.

Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R., …) e compreensível (obviamente…). com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nnca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.

Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide-se."
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Escrevo mais por vontade. Pouca coisa, atualmente, obriga-me a escrever. Mas sempre tive as palavras como companheiras. Em algumas horas mais, em outras menos. Estes dias andava meio seco de idéias para o blog, mas eis que veio a vontade hoje. Acabo de ler algumas coisas interessantes na BRAVO(julho) e tive vontade de falar algo sobre a respeito do que li. Levantei. Peguei um café matinal, 10 gostas de zerocal, 10 segundos no microondas e cá estou.

Falar de cartas... De amor então? Sempre bom. Quem não tem aí algumas palavrinhas guardadas de alguém querido? Eu sempre fui adepto das cartas. Não só as de amor, mas as de saudade, as de desabafo, enfim! Hoje as pratico menos. Quase não arrumo ninguém para poder trocá-las. E no mais, os emails, orkuts e afins estão aí. No entanto, reluto e sou sim um amante a moda antiga em matéria de cartas de amor.

No entanto, venho aqui para falar de uma idéia inusitada que uma artista francesa teve. Sophie Calle levou um fora de seu namorado - o escritor Grégoire Bouillier - por uma carta (na verdade um email - só que bem escrito e em francês...hehehe). O que de mais pode ter isso? Além do motivo do fim do romance (impossibilidade de ser fiel por obrigação: "fidelidade é algo que oferecemos de livre e espontânea vontade"), depois de um certo tempo ela publicou a carta na Bienal de Veneza. O trabalho não só exibia a carta como a interpretação que 104 mulheres lhe davam.

Sophie Calle pediu para que cada mulher comentasse a carta como se estivessem no lugar dela. O resultado desse trabalho repercurtiu muito bem por esse mundo dito mais culto a fora. E apesar dela não ter citado o dito cujo no trabalho, logo descobriram que ele seria o escritor G. Boullier. O resultado desse trabalho veio ao Brasil. A mostra chama-se CUIDE DE VOCÊ (Prenez soin de vous). Nome mais digno não haveria.

Só que isso tudo não acaba por aí. Pela repercurssão do trabalho de Sphie, Boullier escreve um livro intitulado O CONVIDADO SURPRESA. Nesse livro, dedicado à ex-namorada, tem-se um intenso relato auobiográfico do escritor e de seu relacionamento com Sophie. Na FLIP desse ano, os dois se reencontraram pela primeira vez. Só que desta vez para falarem de suas obras (um verdadeiro lavar de roupa suja numa feira internacional de livros). Coisa louca essa! Mas enfim, muito interessante. Em se trantando de amor ou desamor...toda possibilidade é impossibilidade frente a infinitude desse sentimento.

Boa semana a todos!

Por Samuca

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